House e eu

Como podem ver, eu não morri, só fiquei muito tempo ausente deste blog. Talvez eu mantenha a taxa de atualizações deste blog com a minha média de idas à praia: uma vez por ano. Quem sabe...

Mas não foi pra falar disso que eu resolvi abrir o bom e velho editor do blogger. Foi pra falar de House, a série, e não a casa. Quem acompanha ou acompanhava o meu outro blog há algum tempo, sabe que eu sempre fui fã do médico rabugento e genial viciado em Vicodin. Claro, "sempre" é um exagero, uma hipérbole, mas como eu realmente gosto da série, me permitam isso.

E hoje eu vi a notícia que House foi cancelada. Sentirei falta, já que a série é uma das minhas preferidas e uma das pouco que eu acompanho com uma certa regularidade.

House tem defeitos? Sim, tem, e muitos. No geral, a série sofre com a clássica síndrome da repetitividade gerada pela estrutura de "monstro da semana", que no caso, é o paciente da semana. Este termo, monstro da semana, era muito usado na época pré-histórica (ou seja, pré-internet) em que Arquivo-X fazia sucesso (se bem que o termo deve vir de muito antes), e se referia à estrutura manjada de episódios que traziam um monstro ou algo misterioso e que não tinha nada a ver com o arco principal da temporada, sendo que estes episódios que construíam a "história" (ou mitologia da série), geralmente eram uns cinco ou seis por temporada.

House sofre de problema semelhante, com algumas pequenas diferenças. Como os arcos de House são muito centrados nos personagens, mesmo episódios regulares conseguem trazer algum empurrão no arco, já que no meio do problema do paciente, sempre há espaço para desenvolver um pouco mais de algum personagem. E isso eu acho muito legal. Entretanto, há um limite para o que você pode fazer com os personagens, e depois de oito temporadas, isso se torna cada vez mais visível. Não é à toa que a série melhora muito quando introduz novos subalternos de House, pois pode-se explorar aqueles personagens novos. Porém, como o grande charme da série é o personagem principal, mesmo com novos assistentes, a série tende a se estagnar com o tempo, afinal, House não muda. Pode até dar uma disfarçada por algum tempo, mas ele não é hipócrita, pelo menos com seu mantra: people don't change.

Apesar de adorar quando os roteiristas fogem da fórmula padrão dos episódios (geralmente, nos season premiere e season finale), eu também gosto dos episódios "quadradinhos", com a estrutura definida, de House. De certa forma, isso pra mim é relaxante. Repetição. Me lembra também a infância. Quando crianças, vemos e revemos a mesma coisa repetidas vezes, e não nos cansamos daquilo. Já reparou como crianças assistem o mesmo filme ou DVD no repeat? É da natureza delas, afinal, a repetição ajuda-as a aprender sobre o mundo. Claro, como adultos (pelo menos na carteira de identidade), não precisamos mais dessa repetição desenfreada. Conseguimos compreender as coisas mesmo assistindo apenas uma vez (exceto algumas obras do David Lynch). Mas está lá, incutida em nossa memória emocional, como era assistir dez mil vezes alguma coisa. Por isso, pelo menos pra mim, é que eu ainda gosto de assistir algumas séries com fórmula-padrão. De certa forma, isso remete à infância, tão longe e tão esquecida, que só me sobraram fragmentos... Obviamente, não é qualquer coisa que eu aprecie ver repetidas vezes, pois o lado adulto ainda se mantém ativo. Então, séries como House são perfeitas, porque: 1. têm uma estrutura repetitiva, que traz segurança; 2. têm personagens interessantes e sempre variam algum detalhezinho, o que faz com o que o lado adulto não saia revoltado gritando "seu retardado". Ok, ele até sai gritando às vezes, mas um tapa na cara e ele se acalma.

Mas essa não é a única razão pela qual eu adoro House. Como qualquer coisa que adoremos, tem mais a ver com a gente do que com a coisa em si.

Sei que é pretensão e eu sou mesmo muito convencido, mas me identifiquei com o House, especialmente quando comecei a assistir a série (hoje não tomo mais nenhum vicodin, então passou). Não, nunca tomei nenhum opiáceo (apesar de achar que deva ser divertido - hey, Steve Jobs era a favor de viagens, cara!), mas na época em que comecei a assistir House, eu estava bem deprimido. Miserável, pra usar uma das palavras que mais era falada na série nas primeiras temporadas. E claro, eu não manco nem tirei músculos da perna, mas emocionalmente, quem nunca transferiu suas dores emocionais pra algo físico, nem que seja uma simples dor de cabeça? (Isso, pelo menos, eu fiz muito quando era criança.) Some a isso o fato de que adoro um sarcasmo (não, não sou tanto quanto o House - mas um dia eu chego lá) e que me considero intelectualmente privilegiado. Pode até parecer que sou convencido, e sou mesmo (mas claro que disfarço isso muito bem). Por tudo isso, me identifiquei com o personagem. Na verdade, na época até gostaria de ser ele, pois, ao contrário de mim, pelo menos ele tinha uns casos maneiros e sempre acabava resolvendo tudo, no melhor estilo Sherlock Holmes (Holmes -> Home -> House, assim como Watson -> Wilson).

Mas enfim, minha fase deprê mais forte passou, também em parte, graças ao alívio que a série me trazia (lembrando: identificação com o personagem, que mesmo fudido, conseguia resolver coisas legais). Faz tempo que não me classifico mais como miserável (atualmente, estou mais para apático), mas ainda assim, guardo com boas lembranças os momentos de escapismo que a série me proporcionou.

E infelizmente, isso vai acabar. Mas, como já disse a Oráculo uma vez numa certa matriz, tudo que tem um começo, tem um fim. Espero que o doutor House tenha, pelo menos, um bom fim.
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