Conversinhas no ônibus

Pegar um ônibus que passa por uma faculdade pode não ser lá muito confortável (porque a lata de sardinha só vai enchendo, enchendo, até finalmente esvaziar no ponto da "facul" depois de quase explodir). Mas certamente rende algumas boas historinhas pra um ouvido mais atento, especialmente se os jovens forem na maioria, AS jovens.

Tirando o irritante fato de que nenhuma delas tem nome (todas são uma massa amorfa que se tratam basicamente por "amiga", dizendo "ai amiga bla bla bla", "ai amiga ble ble ble"), é interessante (e engraçado) ouvir as fofocas anônimas. Hoje mesmo, enquanto fofocavam sobre um happy hour qualquer, comentavam sobre um fulano. Esse fulano, diziam elas, era meio ruim da cabeça. Mas na minha avaliação, era apenas um bruto, um ogro júnior. Tudo porque ele disse pra uma das meninas que ela era gorda, no começo da festa.

O pior é que a "amiga" realmente se sentiu mal. Saiu da festa, ficou chorando num canto até outra "amiga" chegar e perguntar o que acontecera. No fim, a "amiga" gordinha disse que foi pra casa e ficou chorando no travesseiro. Provavelmente o cara pegou a menina numa TPM brutal. Até porque eu vi a menina, e porra, se aquilo é ser gorda, eu não existo mais, explodi num big bang lipídico. Sim, a menina era bem normal... Ai ai, jovens mulheres. Ou melhor. Ai, ai, "amiga"...

Como eu odeio esse "amiga". Como soa falso na boca dessas garotas mimadas, egoístas e egocêntricas...

Aliás, acho que ou essas meninas não guardam nome nenhum, ou então veem as pessoas simplesmente por um papel momentâneo que os outros desempenham. O caso "amiga" já diz muito, mas hoje também escutei a conversa de duas meninas universitárias (me recuso chamá-las de mulheres, apesar de já terem idade para isso). Uma delas falava frequentemente do namorado, quase sempre em tom de superioridade (imagino que a outra não devia ter um). O problema é que o tal namorado, em nenhum momento, nunca, foi chamado pelo nome. Foi sempre "meu namorado isso", "meu namorado aquilo"...

Tudo bem que a outra menina poderia não conhecer o namorado, sendo que a menção ao nome não traria muita luz à conversa. Mas à menina do namorado, bastaria mencionar uma vez "o Fulano, meu namorado, bla bla bla". Mas não, o fulano era realmente um fulano, era sempre o "meu namorado". E olha, de curiosidade eu comecei a contar as referências a ele, e digo que depois que eu comecei a contar, foram umas cinco vezes. Sempre sem nome. Sempre apenas o papel que o fulano desempenha. O namorado.

E é interessante notar também o egocentrismo dessa "moçada". Sempre é "MEU namorado". Além de desmerecer a personalidade do outro, reduzí-lo a um papel, só é relevante porque ele desempenha um papel PARA MIM. "Meu", "meu, "meu"...

Eu sou um velho por natureza (com uns dezoito, já era velho), por isso, o que vou dizer é normal (velhos sempre dizem isso). Mas porra, na minha época não tinha (tanto) disso não. Ou seria algo local? Afinal, passei minha juventude (em termos de idade) em outros lugares, e não no [SARCASMO]paraíso na terra[/SARCASMO] conhecido como Florianópolis (que TEM SIM uma juventude classe média de cabeça de melão).
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